terça-feira, 16 de agosto de 2011

LIBERTAÇÃO




 Menino doido, olhei em roda, e vi-me
 Fechado e só na grande sala escura.
 (Abrir a porta, além de ser um crime,
 Era impossível para a minha altura...)


 Como passar o tempo? ... e diverti-me
 Desta maneira trágica e segura:
 Pegando em mim, rasguei-me, abri, parti-me,
 Desfiz trapos, arames, serradura ...


 Ah, meu menino histérico e precoce! 
 Tu, sim!, que tens mãos trágicas de posse,
 E tens a inquietação da Descoberta! 


 O menino, por fim, tombou cansado;
 O seu boneco aí jaz esfarelado ...
 E eu acho, nem sei como, a porta aberta!

                   
                     José Régio (1901-1969)

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