segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Anos Depois ...


 Elegia Para Uma Gaivota


 Morreu no Mar a gaivota  mais  esbelta,
 A que  morava  mais alto e trespassava
 De claridade as nuvens mais escuras com os olhos.

 Flutuavam quietas, sobre as águas, suas asas.
 Água salgada, benta de tantas mortes angustiosas, aspergiu-a.
 E três pás de ar pesado para sempre as viagens lhe vedaram.

 Eis que deixou de ser sonho apenas sonhado.
 -: É finalmente sonho puro,
 Sonho que sonha finalmente, asa que dorme voos.

 Cantos dos pescadores, embalai-a!
 Versos dos poetas, embalai-a!
 Brisas, peixes, marés, rumor das velas, embalai-a!

 Há na manhã um gosto vago e doce de elegia,
 Tão misteriosamente, tão insistentemente,
 Sua presença morta em tudo se anuncia.

 Ela vai, sereninha e muito branca.
 E a sua morte simples e suavíssima
 É a ordem-do-dia na praia e no mar alto.   

Sebastião da Gama (1951)


1 comentário:

  1. Para mim, nesta foto, Sebastião da Gama, trazia já na sua tez, a claridade que a Gaivota, revolta em seu cabelo, lhe sussurava que muito cedo o chamaria para o Seu "sonho puro".

    Assim aconteceu !

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