Tudo o que eu sou, o sou por obra e graça
Da comoção rural que está comigo.
Foi a virtude lírica da Raça
a herança que eu herdei do sangue antigo.
Foi esta voz que em minhas veias passa
e atrás da qual, maravilhado eu sigo.
Como um licor de encanto numa taça,
Assim se quer esse condão comigo.
Olhai-me - Eu vim de honrados lavradores.
De avós e netos, sempre os meus Maiores.
Fitaram o horizonte que hoje eu fito.
«O que estaria além de curva estreita?»
- E da pergunta a cada instante feita,
Nasceu em mim a ânsia para o Infinito.
António Sardinha (1887-1925)
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