quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Canto de Mim Mesmo









AS CASAS e os quartos estão repletos de perfumes, as prateleiras estão
                                     repletas de perfumes
Eu próprio aspiro essa fragância, conheço-a e gosto dela,
Eu próprio dela poderia embriagar-me, mas não o permitirei.
A atmosfera não é um pefume, não sabe a emanação alguma, é inodora
Para sempre ficará na minha boca, por ela me apaixonei,
Irei ao rio junto ao bosque e despojar-me-ei de disfarces e roupas,
Estou louco por entrar em contacto com ela.
O fumo da minha própria respiração,
Ecos, ondulações, murmúrios e sussurros, raiz do amor, fio de seda, forquilha
                                     e vide, 
A minha respiraçãoe inspiração, o bater do coração, o sangue e o ar que 
                                     passam pelos meus pulmões,

O odor das folhas verdes e das folhas secas, da praia e das rochas escuras
                                     do mar, e do feno no celeiro,
O som das palavras que a minha voz atira aos remoinhos do vento,
Alguns beijos leves, alguns abraços, os braços à volta de um corpo,
O jogo da luz e sombra nas árvores com os dóceis ramos balouçando,
O prazer de estar só ou no tumulto das ruas, ou pelos campos e colinas,
A sensação de saúde, os gorjeios  do grande meio-dia, o meu canto ao
                                    levantar-me da cama e encontrar o sol.

Achas que mil acres são muitos? Achas que a Terra é muita ?
Praticaste o necessário para aprender a ler ?
Sentiste-te orgulhoso por captar o sentido dos poemas ?

Fica comigo este dia e esta noite e possuirás a origem de todos os poemas,
Possuirás o que há de bom na Terra e no Sol (há milhões de sóis),
Não terás coisas em segunda ou terceira mão, nem verás pelos olhos dos
                                   mortos, nem te alimentarás dos espectros dos livros,
Nem através dos meus olhos verás, nem de mim terás as coisas,
Escutarás tudo e todos e tudo em ti filtrarás .



Autor:    Walt Whitman  (1819-1892).


Nota:  O autor neste poema refere-se à SOLIDÃO , e diz-nos que é no silêncio, 
            na distância dos outros e na abstracção do mundo que nos rodeia que
            podemos voltar a encontrar-nos !