segunda-feira, 11 de abril de 2011


Memória

à minha Mãe, ao meu Pai

Aquele que partiu no brigue Boa Nova
E na barca Oliveira, anos depois, voltou ;
Aquele santo ( que é velhinho e já corcova )
Uma vez, uma vez, linda menina amou:
Tempos depois, por uma certa lua-nova,
Nasci eu ... O velhinho ainda cá ficou,
Mas ela disse: - « Vou, ali adiante, à Cova,
António, e volto já ...» E ainda não voltou !
António é vosso. Tomai lá a vossa obra !
« Só » é o poeta-nato, o lua, o santo, o cobra !
Trouxe-o dum ventre : não fiz mais do que o escrever ...
Lede-o e vereis surgir do Poente as idas mágoas,
Como quem vê o Sol sumir-se, pelas águas,
E sobe aos alcantis para o tornar a ver !


António Nobre  

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