quinta-feira, 14 de abril de 2011

Ofício de Amar

  já não necessito de ti 
  tenho a companhia nocturna dos animais e a peste 
  tenho o grão doente das cidades erguidas no princípio doutras 
  galáxias, e o remorso 

  um dia pressenti a músca estelar das pedras, abandonei-me ao  
  silêncio 
  é lentíssimo este amor progredindo com o bater do coração 
  não, não preciso mais de mim 
  possuo a doença dos espaços incomensuráveis 
  e os secretos poços dos nómadas 

  ascendo ao conhecimento pleno do meu deserto 
  deixei de estar disponível, perdoa-me 
  se cultivo regularmente a saudade do meu próprio corpo 


                                                                                         Al Berto

1 comentário:

  1. Al Berto! Em épocas recuadas sentámo-nos nos mesmos bancos escolares. É uma esfumada imagem do passado! Com nítidez sobressaem as palavras que na sua poesia, nos ficaram para sempre, tão próprias e tão únicas…

    Para ti e saudando a riqueza deste cantinho que em boa hora resolveste cultivar, vou deixar um pequeno escrito que agora mesmo me surgiu:

    ENTRE CRENÇA E CEPTICISMO

    Amo-me e derramo-me, neste amar desordenado,
    crendo que no fundo do lago, a transparência
    ainda me mostra, manhãs e madrugadas por abrir…

    Mas sentindo o lodo toldar a nitidez,com que te miro, ó fundo!
    Balanço na incerteza
    e desgosto a pobreza dos grandes espaços,
    tão vazios de sentimentos…

    Jesus Varela

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