quarta-feira, 20 de julho de 2011

A Uma Morta

Eis o mel a escorrer do coração das rosas,
Os perfumes, as cor's, os hábitos amados:
Vós não sorrireis mais à beleza das cousas;
Vossos braços estão doravante fechados.

Nunca mais sentireis, sobre as pálperas mortas,
O lento desfolhar de choros perfumados;
Desfaz-se-vos o peito em tais metamorfoses
Que a tempo chego só de não mais encontrar-vos.

Do ser, que resta? Um nome. E do tempo? Uma data.
Teríeis sido, ao sol, a sombra que eu amara.
No degrau de um sepulcro o meu amor tropeça.

Mais desenvolta, a morte apressou-se a tomar-vos;
Se pensardes em nós haveis de lamentar-nos:
Nós julgamos cegar assim que uma luz cessa.













Autora: Marguerite Yourcenar (1903-1987)

Tradução de:  David Mourão-Ferreira em Vozes da Poesia Europeia III  nº 165 (2003).

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