domingo, 19 de junho de 2011

Tempos ...


HÁ DIAS ASSIM…


   Enfim! Chegara a Primavera! Aquele era mesmo o dia da chegada, embora anteriormente, por toda a parte se insinuassem pronúncios. Há quase um mês que algumas árvores inauguraram as suas vestimentas rosadas ou brancas a revestir os escuros troncos de Inverno.
   Lá no alto, o sol da tarde sorria, derramando generosamente luz e calor. Os pássaros passavam em voos atarefados enchendo o ar de chilreios e os insectos, na pressa de quem tem que aproveitar ao máximo o tempo, zuniam em caminhos de flor para flor…
Sózinho, no torpor dos seus oitenta anos, António, sentado no banco daquele jardim, tão estranho à sua vida como também o era, aquela terra onde a filha residia e que passara a ser a sua   actual residência, via  passar  mais aquele  dia,  como  tinham já
 passado alguns outros, sem que se habituasse e esquecesse o seu cantinho lá tão longe, onde lhe fora lentamente decorrendo a vida.


Maria de Jesus Pinto


Cerra os olhos,  nasce na sua mente um dia diferente, olha o céu e vê-o translúcido,  um clarão  se reflecte em seu redor como uma nuvem de luz cintilante que o envolve naquela  manta que outrora lhe aquecia o corpo naquelas noites gélidas, em que menino encolhia as pernitas para melhor se aconchegar. Tapava a cabeça, e a enxerga dura transformava-se em baloiço de penas, onde, num vaivém, ouvia o ressonar longínquo do seu fiel amigo, cão corpulento que tinha como missão vigiar a noite na casota fronteiriça da casa.
Naquela data ainda não sabia nada do tempo, era uma sucessão desconhecida  onde as cores se mesclavam com as carícias da mãe e com os afagos um pouco mais pesados, mas na mesma doces, das mãos calejadas do pai.   
A manta foi encorpando, a luz foi-se diluindo pelo caminho, quando voltou à realidade dos muitos anos já passados, ficou feliz por ter viajado no tempo e por estar ali, embora um pouco desenraizado, sentia na filha a extensão do seu amanhã onde ficará  sempre incrustado enquanto o coração bater e a sua lembrança fizer  eco no renovar sanguíneo das artérias. Foi assim com os seus progenitores, que ainda hoje latejam suavemente na sua fronte, e onde ele com ternura acrescida lhe devolve o tempo mágico em que eles  o acompanharam. Levanta-se, e caminhando vagarosamente saboreia o renascer da vida que ainda o não abandonou !!!
9 de Maio de 2011.
Maria José Portugal

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