segunda-feira, 9 de maio de 2011

De tarde









  DE TARDE 

  Naquele pic-nic de burguesas, 
  Houve uma coisa simplesmente bela, 
  E que, sem ter história e grandezas, 
  Em todo o caso dava uma aguarela. 

  Foi quando tu, descendo do burrico, 
  Foste colher, sem imposturas tolas, 
  A um granzoal azul de grão-de-bico 
  Um ramalhete rubro de papoulas. 

  Pouco depois, em cima de uns penhascos, 
  Nós acampámos, ainda o Sol se via; 
  E houve talhadas de melão, damascos, 
  E pão-de-ló molhado em malvasia 

  Mas, todo púrpuro a sair da renda 
  Dos teus dois seios como duas rolas  ,
  Era o supremo encanto da merenda  
  O ramalhete rubro das papoulas! 

 in  O Livro de Cesário Verde , 1887.

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