domingo, 16 de dezembro de 2012

Os Mortos



Eu sei, é preciso esquecer,
desenterrar os nossos mortos e voltar a enterrá-los,
os nossos mortos anseiam por morrer
e só a nossa dor pode matá-los.

Tanta memória! O frenesim
escuro das suas palavras comendo-me a boca,
a minha voz numerosa e rouca
de todos eles desprendendo-se de mim.

Porém como esquecer? Com que palavras e sem que palavras?
Tudo isto (eu sei) é antigo e repetido; fez-se tarde
no que pode ser dito. Onde estavas
quando chamei por ti, literalidade?

E todavia em certos dias materiais
quase posso tocar os meus sentidos,
tão perto estou, e morrer nos meus sentidos,
os meus sentidos sentindo-me com mãos primeiras, terminais.


Autor: Manuel António Pina
           in, Poesia, Saudade da Prosa, uma antologia pessoal


1 comentário:

  1. *
    no rumo do meu retorno
    nesta quadra festiva,
    Marés de Felicidade,
    entre ondas de Saúde,
    desejo,

    saudações,
    ficam.
    *

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