HOMENAGEM de há 56 anos...
O Poeta ULISSES DUARTE, faria nesta data 95 anos,
escolhi da sua vasta Obra, este Poema intitulado - Melodia Nocturna - do seu livro - DA MINHA PAISAGEM -, publicado em Lisboa no ano de 1959 e que teve uma Edição Especial em 2007, um ano antes do seu falecimento
a 16 de Janeiro de 2008. A sua
Caricatura é da Autoria de Pedro Massano.
Era
tarde.
O Sol
pintava cor de fogo o horizonte.
A
Natureza bebia, sopros de brisa, em seu leito.
Zigue-zagues
de andorinhas feriam o tom anil
dum
azul meio desfeito dum firmamento de Abril.
Os animais
ensinavam numa lição colossal,
que a
vida para ser vida, nunca tem vida no mal.
E,
enquanto
as sombras das trevas descaíam lentamente,
os
ralos por entre as ervas, cantavam alegremente.
Eu
bebia a Natureza em tudo o que ela me dava!
Dentro
de todo o meu ser, a Natureza falava!
Sentia
dentro de mim uma vontade gigante
de ter
asas... de voar...
Lançar-me
no Infinito!
De ser
eu num eu distante!
De ser
o deus desse mito que só eu soube encontrar!
A brisa
regia a «Orquestra» que os poetas compreendem
e os
homens não entendem!
− era a Natureza em festa!
Lentamente...
lentamente... devagar... suavemente...
a Lua
espreitava o Sol que envergonhado fugia.
− Era a Noite que aparecia.
Tão
extasiado estava
que nem
reparei no Cisne-do-Lago-d’Águas-de-Prata.
Eu costumava
dizer-lhe: − Boa noite, meu menino!
Ele
nunca respondia.
Silencioso...
distante...
nem
sei, até, se me ouvia.
.....................................
−
Poeta, queres vir comigo?
− Quem
me fala? Quem desperta este Infinito
que
aperta tudo em volta do meu ser?
− Eu,
poeta! Sou o «CISNE»!
− Mas
tu falas? Não sabia!
−
Falei-te sempre, poeta!, nessa altura eras só homem,
não compreendias a vida sem caprichos e
vaidades.
Agora,
como
não hás-de ouvir um cisne falar
se a própria
Natureza mora em teu peito a cantar?
Queres
ouvi-la melhor?
− Se
quero, meu, bom amigo!
− Salta
pra cima de mim,
não temas, vem comigo.
...................................................
Logo,
como num encanto regido por mão de fadas
centenas
de pirilampos seguiram à nossa frente....
(parecia que o Sol tinha largado um bocado
para
alumiar a gente)...
Onde
queríamos ver, era dia de verdade!
E
então,
oh
realidade suprema das ambições!,
vi os
pobres miosótis cantarem lindas canções
enquanto
as borboletas dormitavam em seus braços;
vi
lírios do roxo lírio dizerem versos, às
rosas,
trespassados
de martírio;
junquilhos
brancos de neve balouçando docemente,
embalados
pela brisa que soprava levemente;
ervilhinhas
perfumadas, ouvindo aos amores perfeitos,
poesias engraçadas;
e os
bem-me-queres, reunidos, lamentavam-se dos homens..,
Uma
rainha dos prados, erguendo a sua corola,
segredou-me
a meia voz:
−
Poeta, não vás embora! Fica.
Vive para nós!...
Não
esperei nada mais.
Ergui-me
com tal leveza...
parecia
que a Natureza me tinha tornado alado!
E numa
dança de vida em que o meu corpo seguia
na dança da própria dança,
rodopiei pelo lago de prata e cor
de Esperança!
Ora
erguia, ora baixava meus braços com todo o amor.
− O meu
coração rezava uma prece ao Criador!
Das
flores, partiu um coro de nostalgia campestre.
Vibrei
de alma arrebatada!
A Natureza aparecia como uma orquestra
ensinada
por um
regente celeste!
Depois,
já
quase sem forças, um grito louco, estridente,
saiu do
meu peito ardente e vibrou pelos espaços.
até
cair pelos montes todo desfeito em pedaços...
Um
grito de mim nascido, filho da minha franqueza:
− Oh
HOMEM!,
para
amares o homem, anda amar a NATUREZA!
AUTOR: Ulisses Duarte, do seu
livro − DA MINHA PAISAGEM
LISBOA, 1959.